9 de junho de 2010

Você se chamava José?

do alto de uma nuvem, eu,
José flutuava com espanto.
acima de mim havia santos,
as dores não mais havia,
eu não usava mais óculos,
e li, que escreveram na areia
que o meu nome era José.

no poema escrito, ficara:
‘parido duma mulher mãe,
que num cartório firmara,
por um homem dito pai,
desde quando criancinha. ’
junto com a história morreu;
José era esse nome o meu.

noutras nuvens em movimento,
num bailado; triste e lento.
ora arrastando-me ao ocaso
rodopiando sobre as labaredas,
eram as chamas do inferno.
que voltavam ligeiras, de ré
sombreando aquela praia que
na areia escreveram José.

José; muito assim fui chamado,
para suscitar dúvidas, arguido,
qual no poema de Drummond.
mas não confundam, não era eu,
o tal da festa acabada dita.
fui outro; um José menos amado.
amado, tão quanto fui odiado
por não professar una fé.

a poesia ficou;
‘eu me chamava José’.
o sonho acabou,
a vida acabou;
o poema chorou;
o mal não há mais;
a dor não há mais.
o José não há mais...

Mario Quintana


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