28 de outubro de 2008

SERA QUE PIMENTEL (PT) SERÁ O SUCESSOR DE AECIO NO GOVERNO DE MINAS?


Em entrevista exclusiva a este blog, o prefeito Fernando Pimentel assinala: "Não há vencedores e vencidos dentro do PT". Confira a íntegra: Blog: A vitória é da aliança entre PT e PSDB, é do candidato Márcio Lacerda ou é uma vitória do voto contra Leonardo Quintão (PMDB)? Fernando Pimentel: Eu acho que a vitória é da cidade porque a cidade fez reflexão madura e tomou uma decisão num juízo muito politizado, carregada de conteúdo político. Essa decisão tem esses dois lados que você mencionou. É uma aprovação sim de uma construção política que eu diria que é ousada, pioneira no Brasil, mas é também claramente um não à volta de práticas políticas que Belo Horizonte já afastou há muito tempo. É um não muito incisivo, muito claro a um setor da política mineira e brasileira que eu diria não é mais contemporâneo, que ficou ultrapassado. Não quero fazer nenhum juízo de valor. As pessoas que se agrupam nesses segmentos são muito diferentes umas das outras. Mas claramente a cidade disse não a esse conjunto de práticas políticas representadas no adversário. Mas é uma vitória da cidade. Não é nem minha nem do governador Aécio Neves. Essas análises exageram um pouco o papel das lideranças. Tem alguma influência, é claro. Não é tão grande assim. É uma vitória do eleitor de Belo Horizonte, que teve uma decisão muito madura, consciente. Acho que foi decisão sábia da cidade, votou no melhor, elegeu o melhor.
Blog: Como fica o PT e a sua relação com a legenda? O sr. já cogitou em deixar o partido? Fernando Pimentel: Nunca cogitei sair do PT. Só saio do PT para ir embora para casa. Ou então tem um dia marcado: o dia em que o presidente Lula sair do PT. O dia que ele sair pode ser que eu saia junto. Fora isso, não tenho nenhum motivo para sair do PT, partido que eu fundei, ajudei a consolidar e ao qual dei uma bela vitória em Belo Horizonte. Não fui eu sozinho. Foi o partido de Belo Horizonte, comigo, nossa militância que demonstrou uma garra indiscutível, foi para a rua com todo empenho e não se deixou abater pelas pesquisas iniciais que davam diferença grande em favor do adversário. Essa militância, esses companheiros, contribuíram decisivamente para virar o quadro eleitoral. Então foi uma vitória do PT. Acho que a eleição de BH é também uma vitória do PT. Unificar o partido? Acho que o partido está unido. As divergências políticas existem e são naturais. Tanto o ministro Patrus Ananias quanto o ministro Luiz Dulci são amigos de longa data, não há nenhuma rutpura entre nós. Houve divergências nesse processo da aliança. É natural que seja assim. Na vida pública você pode divergir de vez em quando até dos companheiros. Mas nós não deixamos de ser companheiros. Tenho certeza de que pensamos muito parecido em relação ao futuro.
Blog: O que vocês pensam em relação ao futuro?
Fernando Pimentel: É começar a construir a sucessão do presidente Lula. Vai ser uma tarefa muito difícil do partido. Acho que o presidente também está preocupado com isso. Nós estamos vindo de um mandato e meio já, serão dois mandatos, muito bem-sucedidos. Temos uma contingência que preocupa a todos que é a crise financeira internacional. Ainda não sabemos em que grau e em que dimensão irá atingir o Brasil. De qualquer maneira, o que já se consolidou até agora torna o presidente Lula um presidente com uma avaliação incomparável na história da República recente. Temos de prosseguir nessa caminhada. O Brasil não pode abrir mão daquilo que já consolidou nesses anos pós-ditadura. Essa é a grande tarefa. Todos estamos unidos em torno dessa idéia. Vamos trabalhar por esse projeto.
Blog: Como o governador Aécio Neves participa desse projeto de continuidade ao programa do governo Lula?
Fernando Pimentel: O governador Aécio Neves é um interlocutor político fundamental para qualquer projeto que se queira sério e responsável no Brasil. Ele é uma liderança política incontestável. Tem hoje uma avaliação em Minas extremamente positiva. E é pessoa que tem uma contribuição muito importante a dar para o Brasil. Então eu acho que o governador é uma pessoa que tem de compor o cenário do que ele chama "pós-Lula". Ele certamente tem de ser contemplado nessa construção. Isso significa que ele pode ser personagem de uma aliança eleitoral? Não. Seria muita pretensão minha, que sequer sou do partido dele, imaginar uma situação dessas. O que eu acredito, e tenho certeza de que nisso o governador não me autorizaria, é dizer que ele é um interlocutor de nosso campo. Ele já é interlocutor. E é importante que continue assim, qualquer que seja o desenho de 2010. Porque depois da eleição tem de governar o país.
Blog: Nesse processo de construção uma candidatura à sucessão presidencial dentro do PT muito se fala em Dilma Rousseff. E há uma tentativa de atrair Ciro Gomes (PSB) para esse projeto. Ao mesmo tempo Ciro Gomes está nos planos do governador Aécio Neves (PSDB), que já afirmou a este blog que o inclui em seu projeto político. Ao mesmo tempo Márcio Lacerda (PSB) é recém-eleito com apoio desse tripé... Fernando Pimentel: Não vamos misturar as coisas. Vamos separar. Veja bem, nós acabamos de ganhar uma eleição em BH. É uma vitória do campo de centro-esquerda. No caso específico da história de BH não é nada estranho, pois é uma chapa PSB-PT, como já houve com Célio de Castro e eu como vice (em 2000). Na política eleitoral Márcio Lacerda é um personagem novo. Mas essa aliança PT-PSB agregou agora a informal parceria com o PSDB. Chamo atenção porque às vezes a imprensa nacional faz análise equivocada dizendo que o PT está fora da PBH após 16 anos. Isso não é verdade. Lembro a todos que já na primeira entrevista concedida por Márcio Lacerda no domingo à noite, disse que o primeiro compromisso dele é com a continuidade do projeto democrático-popular em BH. Ele fez questão de mencionar que esse projeto começou com Patrus Ananias, depois continuou com Célio e agora comigo. Não tenho dúvida de que o governo de Márcio Lacerda é de continuidade de centro-esquerda, que no caso de BH tem um componente novo que é a aliança com o governo do estado. No cenário eleitoral de 2010, os personagens que você mencionou - Ciro Gomes, Dilma e Aécio - não temos como saber com tanta antecedência que posição irão tomar. É tudo uma construção precoce...
Blog: Se o governador Aécio for candidato o PT de Minas irá apoiá-lo?
Fernando Pimentel: A sua pergunta tem vários "ses". Com tantos "ses" e "apostas" eu não consigo responder. Digo o que tem á minha vista. Com os percalços naturais do processo eleitoral, conseguimos produzir em BH uma demonstração clara e inequívoca de que é possível, em dado momento, em alguma circunstância especial, que a tese política da convergência, da busca de entidade, mesmo entre pólos aparentemente diferentes entre PT e PSDB, produza um resultado eleitoral. Significa o quê? Que isso será sempre possível? Que vamos fazer isso para o plano nacional? Que daqui para frente todas as eleições tentaremos reproduzir esse modelo? Não. De jeito nenhum. Significa apenas que em determinadas circunstâncias essa tese política possa virar até um projeto eleitoral como foi em BH e ser vitorioso. Isso é fundamental para a gente quebrar a idéia de que os partidos são inimigos mortais, não podem conversar, não podem ter agenda comum, idéia essa que se for reforçada só beneficia o lado mais fisiológico da política brasileira. Blog: O sr. acha que os partidos são dispensáveis para a política?
Fernando Pimentel: Não. Nenhum de nós abriu mão dos partidos. Continuamos partidários. O governador no resto do estado teve candidatos. Em algumas cidades ele ganhou em outras perdeu. E nós também. Mas no caso específico de BH houve situação que permitiu essa composição. Se nós partíssemos do princípio de que os partidos são mais importantes do que a realidade e do que o interesse coletivo, o bem comum, jamais teríamos feito essa construção. Os partidos são fundamentais, são importantes. Mas são um meio, não um fim. São um meio para fazer política e fazer política significa atender ao anseio da população, melhorar a vida das pessoas. Esse é o entendimento que conseguimos passar e tivemos a aceitação da cidade que repudiou práticas políticas que a gente sabe que fisiológicas. É só isso. Daí a dizer que há um desenho eleitoral para 2010 há grande distância. Não tenho essa pretensão.
Blog: Em 2010 o sr. é candidato ao governo de Minas?
Fernando Pimentel: Não há nada nesse sentido. Nada definido. Não sei nem mesmo se o PT vai ter candidato a governador...
Blog: Por que o PT poderá apoiar a candidatura do PSDB ao governo de Minas, por exemplo, compondo uma chapa com o vice-governador Antônio Augusto Anastasia? Fernando Pimentel: É cedo para fazer qualquer desenho eleitoral. Em 2010 a tarefa do PT é fundamental: garantir a sucessão do presidente Lula. Eleger o sucessor ou a sucessora do presidente Lula que mantenha o “continuar e melhorar”, o nosso slogan aqui. Isso é fundamental. Os arranjos e acordos regionais têm de estar submetidos a essa lógica. Se for desse jeito, Lula será o grande condutor desse processo. Portanto é prematuro falar em candidaturas e de nomes. Não sou hipócrita de dizer que o meu nome está fora. Não. Sei que o meu nome é considerado. Eu fui prefeito da capital, sou bem avaliado, é natural que o meu nome seja considerado, como o nome do ministro Patrus Ananias, que é uma liderança incontestável em Minas Gerais. Uma coisa eu asseguro: não vai haver da minha parte disputa com o ministro Patrus. Não vislumbro um horizonte em que eu dispute qualquer cargo. Nem ele nem eu temos nenhuma ambição pessoal, viemos para a política com o mesmo objetivo, sempre trilhamos o mesmo caminho, tivemos uma divergência agora no processo de BH que ficou explícita, mas é uma divergência que não significa ruptura nem das relações pessoais nem políticas. Vamos estar juntos nessa construção política num futuro próximo. Mais do que isso é precoce falar, porque está cedo. Não sabemos nada de 2010, a não ser que esses personagens vão estar se movimentando.
Blog: Há no PT algum movimento para aparar arestas ou será feito um movimento para punir a dissidência que não concordou com a tese da aliança com o PSDB?
Fernando Pimentel: Acho que tem de separar os casos e não compete a mim, que sou militante de base do partido, fazer qualquer análise disso. Acho que a direção do partido, tanto em nível municipal, quanto estadual, vai fazer esse balanço. Mas vamos separar o ministro Patrus e o ministro Dulci dos outros personagens com expressão reduzida em BH, e que francamente se aliaram à candidatura adversária quando tínhamos um candidato do PT. Esses terão de ser objeto de análise mais rigorosa pela direção do partido. Patrus e Dulci não tiveram essa postura. Tinham crítica mas em momento algum fizeram campanha contra. Não houve isso. Então o objetivo agora é nós juntos olharmos para frente. Pensarmos no futuro e recolher lições do episódio de BH. Não há vencedores e vencidos dentro do PT. Não é esse o objetivo da construção que foi feita. Tem um conjunto de companheiros que em algum momento tiveram posições políticas diferentes e vão estar juntos agora. Minha relação com Patrus e Dulci é muito boa. Tive recentemente conversa muito fraterna com Patrus e passando essa semana devo ligar para ele logo e marcar conversa. Não há ruptura, estaremos juntos. Esse episódio serviu até para enriquecer nossa relação. Blog: Há convite para o sr. integrar o governo federal?
Fernando Pimentel: Não sei. Devo estar com Lula esta semana em Brasília. Sinceramente não trabalho com essa hipótese. O governo do presidente Lula neste momento está muito consolidado. Não vejo porque mexeria em sua equipe. Ele sabe que sou aliado dele e estou sempre ao seu lado para quando precisar, independentemente de ter ou não cargo. Acho até agora é hora de dar uma certa descansada. Fiquei 16 anos na PBH, pensando a cidade, sonhando com a cidade e trabalhando 24horas por ela. Seria bom voltar a ser um cidadão comum, refletindo de um ponto de vista mais cotidiano. Blog: Em determinado momento o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini chegou a declarar que o sr. seria punido porque o governador Aécio Neves (PSDB) não poderia aparecer na propaganda política de Márcio Lacerda (PSB). Como está a relação com o PT nacional?
Fernando Pimentel: Eu nunca vi, não tomei conhecimento desta suposta declaração de Berzoini. Conversei com ele hoje por telefone. Liguei para ele hoje, disse: “Olha, é vitória de nosso partido, sua também. É uma vitória importante, principalmente no quadro final das eleições, em que a maioria das nossas candidaturas não teve êxito”. Disse-lhe que queria fazer uma visita, ele achou boa idéia. E considerou que seria importante começar um trabalho que não é de reunificação - porque o partido não esteve desunido - mas para aplacar os possíveis ressentimentos que possam ter havido neste processo. Encontrei em Berzoni de espírito bom, receptivo. Quero dizer o seguinte: a função da direção nacional do partido é muito difícil. A gente tem de respeitar os companheiros, não os absolvo de erros. Mas o país é grande, o partido é grande, diversificado, definir estratégias adequadas numa campanha municipal para o país inteiro é difícil fazer sem cometer erros. Não acho que é o caso de fazer balanço para culpabilizar ninguém. Acho que não vai haver acerto de contas internas.